Atendendo aqueles que querem uma resposta simples, direta e imprecisa: não.
Essa é uma afirmação recorrente. Na introdução de artigos científicos, em títulos de notícias de jornais especializados, em cursos voltados para o setor, enfim, os exemplos são inúmeros. Basta um google com os termos “aquicultura+ração+custo+produção” e não faltarão links para clicar e usar de referência. Eu mesmo, ainda nos tempos de graduação, durante a defesa do meu TCC, embriagado pelo nervosismo do momento, tropecei nessa afirmação confusa (uma altura dessa do campeonato, o senhor tá sem bandoleira, 23?). É, fazer o que? É como dizem: acontece nas melhores famílias. Nas piores acontece também, porém com mais frequência.
Naquela ocasião a banca não perdoou. Afirmações impensadas assim, num ambiente propício para isso, devem ser confrontadas. Apertadas até o limite para ver se conseguem se sustentar sobre sua frágil base. Bem, não se sustentou naquele dia. Então compartilho aqui uma série de questionamentos para refletirmos juntos.
O que é aquicultura? Essa é fácil! De maneira rápida e objetiva: aquicultura é o cultivo de organismos aquáticos cujo ciclo de vida se dá total ou parcialmente em meio aquático.
Ora, sendo esta a definição de aquicultura, então a afirmação “a ração é o principal custo da aquicultura” terá de se provar em diversos cenários. Vamos pensar em alguns deles, então.
Como eu não sabia por onde começar, resolvi partir do princípio, digo princípios culinários. Eu, capixaba que sou, adoro moqueca. Moquecas, com s, seria mais apropriado. Uma das minhas favoritas é a moqueca de sururu. Ah o sururu, molusco bivalve delicioso de nome científico Perna perna. Esse mexilhão marrom, que habita costões rochosos na região entre marés, pode ser encontrado até 35 m de profundidade. Em fazendas aquícolas, sua criação pode ser feita em pencas, distribuídas ao longo de um cabo (também chamado de longline) – que fica suspenso por boias e ancorado em poitas (obra de arte Imagem 1 abaixo).
A maior parte dos custos desse tipo de produção aquícola, assim como de outros moluscos bivalves como ostras e vieiras, são com mão de obra, as sementes e até mesmo a depreciação dos insumos fixos (como cabos, lanternas – no caso das ostras e vieiras -, das embarcações etc.). O custo de ração é igual a zero. Nossa afirmação já não parece tão sólida assim né? Mas pode ser só uma exceção. Será que temos outras?
Que tal produção de macroalgas? Temos a famosíssima Kappaphycus alvarezii. Com sua biomassa utilizada para diversos propósitos, de ração animal à biocombustível, passando por emulsificantes, biofertilizantes entre outros. Este certamente é um bom exemplo, certo? Com certeza isso também é aquicultura. Não preciso dizer que não tem custo com ração né?
Tá legal, tá legal… eu sei o que deve estar pensando: “ah Layon, mas até agora só tivemos exemplos com casos de filtradores e consumidores primários”. Bem, isso é verdade.
Mas em algumas conversas eu já ouvi que o sistema de produção em biofloco, o custo de ração não é o maior. Outro ramo da aquicultura que já ouvi dizer que custos como mão de mão de obra e instalações superam o custo com ração é a aquicultura ornamental. Porém não achei nenhuma documentação que confirmassem essas afirmações.
E aqui temos um ponto importante dessa discussão. Existem pouquíssimos trabalhos, bem fundamentados, que nos possibilitem fazer quaisquer afirmações a respeito disso. A maioria dos trabalhos de viabilidade econômica são sobre pisciculturas em seu modelo tradicional e, geralmente, na fase de engorda. Talvez venha daí essa história de que o maior custo da produção aquícola é a ração. Porque, nesse caso, especificamente, é mesmo.
Porém se pensarmos em uma outra fase da produção, como a alevinagem, que é um empreendimento aquícola, uma piscicultura (ora ora, um xeroque holmes), mais uma vez a ração não está entre os maiores custos da produção.
Então, como é comum na maioria dos casos, a resposta correta é “depende”. De que ramo da aquicultura estamos falando? Qual espécie? Qual sistema de produção ou fase de vida? Quais as características da propriedade? Já parou para pensar que uma propriedade mal localizada pode elevar custos logísticos?
Portanto devemos sempre tomar cuidado com as respostas simplistas, geralmente elas nos encaminham ao erro. A melhor maneira de evitar ser pego de surpresa com custos não previstos e ter um produto mal precificado é estar bem assessorado.
E falando em estar bem assessorado, já ouviu falar da Inbraqua? A autointitulada melhor empresa de assistência técnica em aquicultura do Brasil. Se você tem uma produção aquícola e gostaria de profissionalizar ampliar seu negócio, ou pretende investir nesse setor, considere nos contactar. Será um prazer fazer parte do seu sucesso.